terça-feira, 23 de outubro de 2012

Mais um pouco de História


A difícil equação da Paz

por Herman Glanz – O historiador israelense, Benny Morris, um dos “novos historiadores”, grupo da linha da esquerda, em entrevista ao jornal Haaretz, de 20/09/2012, afirmou ser impossível um acordo de paz com os palestinos porque eles não aceitam a existência de um Estado de Israel no território da Palestina, que consideram englobar toda a área do Estado de Israel. Todo o conflito está centrado neste detalhe. Por esta razão, vê como impossível a solução de dois Estados. Devemos ter presente que Benny Morris escreveu livro sobre os chamados “refugiados palestinos” culpando Israel e que os “novos historiadores” chegaram a subverter toda a historiografia israelense; os livros escolares, por exemplo, não apresentavam fotografias de Herzl, Ben Gurion, Moshe Dayan, Golda Meir, mas de Gamal Abdel Nasser e Bourghiba. Tudo foi revisto.
Benny Morris explica suas conclusões, demonstrando que os árabes nunca abriram mão do território da Palestina, não havendo lugar para um Estado Judeu no local. Por outro lado, diz, a liderança judaica e sionista sempre se mostrou disposta a abrir mão de partes do território da Palestina, que fora destinada a constituir o Lar Nacional Judaico. Mostra que tal ocorreu em 1937, quando a Comissão Peel, em razão da violência árabe contra os judeus da Palestina, provocando massacres, propunha a partilha do território, (esclarecemos que já se tratava do território remanescente do Lar Nacional), mas os árabes não aceitaram, isto é, os países árabes, mas a liderança judaica e sionista aceitara. (deve ser observado que não havia povo palestino naquela ocasião, sendo a negativa pronunciada pelos países árabes). O mesmo voltou a ocorrer com a Partilha da Palestina promovida, desta vez, pela Assembleia-Geral da ONU, em 29 de novembro de 1947, aceita pela liderança judaica e sionista, e rejeitada pelos árabes (países árabes), observando-se, também, a inexistência de povo palestino em 1947.
Devemos lembrar da partilha imposta pela Inglaterra, Potência Mandatária, retirando quase 80% do território da Palestina para poder criar o Emirado da Transjordânia (hoje Jordânia), o que foi aceito pela liderança judaica e sionista, em julho de 1922, e que acabou motivando um cisma na Organização Sionista Mundial, com a renúncia de um dos seus dirigentes, Zeev Jabotinsky, contrário a essa perda de território, e cunhando um lema: “Duas margens tem o Rio Jordão – esta é nossa e a outra também. Tanto em 1922, quanto em 1937 e em 1947, a Organização Sionista tinha na direção Chaim Weizmann e David Ben Gurion. Os judeus sempre queriam um Estado, por menor que fosse, para viver em paz.
O Tratado de Paz com o Egito entregou todo o Sinai, tendo Menahem Begin afirmado que nunca o Sinai fora reivindicado pelos judeus, por isso não se opôs. Depois vieram os Acordos de Oslo, com Rabin, Shimon Peres, Ehud Barak e mesmo Natanyiahu, em governo anterior, entregando partes da Margem Ocidental em consequência dos Acordos, e, em 2005, Ariel Sharon entregou, unilateralmente, a Faixa de Gaza e mais partes da Margem Ocidental. Tudo visando a paz, num princípio de Terras por Paz, paz que nunca aconteceu.
Devemos acrescentar que outro fator que corrobora com Benny Morris é a determinação islâmica fundamentalista de que “uma vez conquistado um território, mesmo pela força, passa a constituir território islâmico perpétuo e nenhum muçulmano tem o poder de ceder tal território, no todo ou em parte”. Essa situação ficou evidente em duas ocasiões: a primeira, quando das discussões do Tratado de Paz com o Egito e existiam duas pequenas vilas no Sinai, junto da divisa com a Faixa de Gaza, levantadas logo depois de 1967 – Yamit e Sal-it. Os israelenses achavam que não haveria a menor dificuldade em mantê-las, até argumentando que quem faz a guerra e perde, paga com território e se tratava de área de tamanho insignificante.
Sadat se manteve firme, não podendo desprezar um centímetro de território e foi Begin quem cedeu. A segunda vez aconteceu com o Hotel Sonesta, em Taba, na fronteira com o Sinai, quando, por erro de locação, uma quina do prédio do hotel avançou uma insignificância sobre o Sinai – Israel cedeu tudo. Os muçulmanos nunca cedem território e quando são expulsos, se acham obrigados a retomá-lo, leve o tempo que for necessário. Esse é o caso de Al Andaluz, esperando os muçulmanos o retorno do Califado europeu.
Aliás, Mahmoud Abbas expressou isso com toda clareza, nesta semana, numa declaração na sua página oficial no Facebook. Lá ele declara francamente de que Israel está ocupando ilegalmente território palestino, não somente na Judeia e Samária, mas pelo contrário, “isso se aplica a todos os territórios que Israel ocupa de antes de junho de 1967.” E não devemos esquecer que nos Acordos de Oslo o finado Arafat disse aceitar Israel em carte à parte, não figurando nos textos da Declaração de Princípios e que a Carta da OLP, apesar dos Acordos, não foi emendada e continuam os artigos contrários à existência de Israel.
Entender uma afirmação de um historiador como Benny Morris nos mostra, sob um ângulo prático, quão difícil é a paz no Oriente Médio e não devemos esquecer, nos dias de hoje, que a Primavera Árabe nada tem a ver com Israel. O que temos permanentemente falado está agora, ao que parece, sendo entendido por outros de diferentes espectros. Devemos lamentar a situação e ter esperança de que os verdadeiros moderados surjam, e teremos paz.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012


A Guerra Santa não Deixa de Ser Guerra

por Herman Glanz – Em 30 de agosto passado, num debate no Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a guerra civil na Síria, que causara, só naquele mês de agosto, mais de 5000 mortes, o representante sírio, Bashar al-Jafari, culpava os países ocidentais pelo apoio aos rebeldes sírios, especialmente a França, que foi Potência Mandatária, por ter promovido uma mistura de etnias no seu país, o que levou à guerra atual.
O Ministro do Exterior da França, Laurent Fabius, presente, respondeu que, ao se falar contra o Mandato francês, lembrava que o avô do atual Presidente sírio, em carta que se encontra no Ministério do Exterior, da qual poderia fornecer uma cópia ao representante sírio, pedira à França para não conceder independência à Síria. Esse documento, recebido na França em de 15 de junho de 1936, já foi publicado no jornal libanês Al-Nahrar e no jornal egípcio Al-Ahram, e o professor Dr. Mordechai Kedar, da Universidade Bar-Ilan, apresentou a tradução integral do mesmo; (comentários entre parêntesis). A carta faz um elogio aos sionistas e demonstra que a paz de Israel com os árabes muçulmanos se mostra impossível. Apresentamos, a seguir, tradução da referida carta:
“Prezado Sr. Leon Blum, Primeiro-Ministro da França
Diante das negociações que estão se desenrolando entre a França e a Síria, nós – os líderes Alawitas na Síria – respeitosamente submetemos os seguintes pontos à consideração Vossa Senhoria e ao seu Partido (Partido Socialista Francês):
1 – A Nação Alawita (sic) que se tem mantida independente durante anos por meio de muito sacrifício, zelo e mesmo submetida a ataques mortíferos, é uma nação diferente da Nação Muçulmana sunita na sua fé religiosa, costumes e história. Nunca houve ocasião em que a Nação Alawita (que vive nos montes da costa ocidental da Síria) estivesse sob domínio dos muçulmanos que governam as cidades do interior do país.
2 – A Nação Alawita recusa ser anexada à Síria muçulmana, porque a religião islâmica, passando a ser considerada a religião oficial do país, fará a Nação Alawita ser tida como herege pela religião islâmica. Em vista deste fato, solicitamos venha a levar em consideração o perigoso e terrível destino que aguarda os alawitas caso se vejam forçados a uma anexação à Síria quando do fim do Mandato (da França), de forma que os muçulmanos conquistarão o poder de impor as leis que derivam da sua religião. (de acordo com o Islã, quem professar culto herege tem a oportunidade de se converter ao islamismo ou sofrer a jihad).
3 –Conceder a independência à Síria e cancelar o Mandato seria um bom exemplo para os princípios socialistas da Síria, mas o significado de completa independência representará o domínio por algumas poucas famílias muçulmanas sobre a Nação Alawita na Cilícia, Askadron (a Faixa de Alexandreta, que a França destacou da Síria e anexou à Turquia, em 1939) e sobre os Montes de Ansariyya (os Montes da parte ocidental da Síria, que constituem uma continuação topográfica dos Montes do Líbano). Até mesmo a existência de um Parlamento e um governo constitucional não asseguram a liberdade dos cidadãos. Tal controle parlamentar é somente uma fachada, desprovido de qualquer valor, e a verdade é que será controlado pelo fanatismo religioso que subjugará as minorias. Desejam os líderes da França que muçulmanos controlem os alawitas e os atirem no fosso da miséria?
4 – O espírito de fanatismo e as estreitas ideias, cujas raízes se encontram profundamente entranhadas no coração dos árabes muçulmanos para com aqueles que não são muçulmanos, é o espírito que alimenta continuamente a religião muçulmana, e portanto não existe esperança de que a situação mudará. Caso o Mandato se encerre, o perigo de morte e destruição será uma ameaça constante para com as minorias na Síria, mesmo que ao se encerrar (o Mandato), se decrete liberdade de pensamento e religião. Isto porque observamos, hoje em dia, como os muçulmanos de Damasco forçam os judeus, que lá vivem sob seu mando, a firmar documento que os proíbem de enviar alimentos para os seus irmãos judeus que estão sofrendo uma catástrofe na Palestina (eram os tempos da Grande Rebelião Árabe de 1936/37, promovendo matança dos judeus), constituindo a situação dos judeus na Palestina a mais forte e concreta prova da importância que o problema religioso representa para os muçulmanos árabes para com aqueles que não pertencem ao Islã. Esses bons judeus, que trouxeram civilização e paz para os árabes muçulmanos, e distribuíram riqueza e prosperidade para a terra da Palestina, não prejudicaram ninguém, não tendo tomado nada pela força e, no entanto, os muçulmanos declararam a Guerra Santa contra eles e não hesitaram em promover uma carnificina contra mulheres e crianças, a despeito do fato da Inglaterra se achar na Palestina e a França na Síria. Por isso, um futuro negro aguarda os judeus e outras minorias se o Mandato for encerrado e a Síria Muçulmana vier a se unir à Palestina Muçulmana. Essa união é o objetivo final dos árabes muçulmanos..
5 – Muito apreciamos sua generosidade de espírito defendendo o povo sírio e o desejo de promover a sua independência, mas a Síria, no presente momento, está longe do elevado objetivo que aspiram para com ela, porque a Síria ainda se encontra amarrada ao espírito do feudalismo religioso. Achamos que o governo francês e o Partido Socialista Francês não concordarão com a independência da Síria, caso sua implementação cause a subjugação da Nação Alawita, colocando a minoria alawita em perigo de morte e destruição. Não pode ocorrer que Vossa Senhoria concorde com a exigência síria (nacionalista) de anexar a Nação Alawita à Síria, porque os elevados princípios de Vossa Senhoria – se comungam a ideia de liberdade – façam acatar uma situação na qual uma nação (a muçulmana) tenta bloquear a liberdade de outra (a alawita), forçando a anexação.
6 – A França pode incluir a garantia dos direitos dos alawitas e outras minorias no texto do Tratado (o Tratado Franco-Sírio, que define as relações entre os Estados), mas enfatizamos a Vossa Senhoria que tratados não têm valor para a mentalidade síria-islâmica. Já vimos tal fato anteriormente, com o Pacto firmado entre a Inglaterra e o Iraque, que proibia os iraquianos de maltratarem e assassinarem os assírios e yázidis.(curdos do norte do Iraque).
A Nação Alawita que nós, abaixo assinados, representamos, suplica em alto e bom som ao governo da França e ao Partido Socialista Francês, e requer que garantam a sua liberdade e independência dentro dos seus pequenos limites (vejam: um Estado Alawita independente!). A Nação Alawita deposita seu bem-estar nas mãos dos líderes do Partido Socialista Francês e espera encontrar amplo suporte para uma nação que demonstra grande amizade e que já prestou à França grande serviço e atualmente se encontra em perigo de morte e destruição.
Assinados: Aziz Agha al-Hawash, Mahmud Agha Jadid, Mahmud Bek Jadid, Suleiman Asad (avô de Hafez, o pai de Bashir), Suleiman al-Murshid, Mahmud Suleiman al-Ahmad.”
Nada poderia ser mais claro e, por outro lado, explica a fúria assassina de Bashar Assad, porque os alawitas sabem que, se os sunitas, ou xiitas, tomarem o poder já têm o exemplo do ocorrido com Khadafi da Líbia. O Ponto 6 da mesma carta, que fora dirigida a Leon Blum, então Primeiro-Ministro francês, do Partido Socialista, traz um esclarecimento contundente sobre o valor dos tratados com os muçulmanos.
Quando a Presidenta Dilma Rousseff, na abertura da Assembleia-Geral da ONU, dia 25 de setembro passado, falou em solução diplomática para a Síria, e contra solução militar, o avô de Bashar Assad, juntamente com outros alawitas, advertiam dos perigos e falava das desgraças e terrível destino que pairavam para os divergentes de um islã predominante. Os alawitas lutam com crueldade para não “perderem as cabeças”, literalmente, cometendo atrocidades, para se manterem vivos, pois, em caso de domínio sunita, (ou xiita), serão massacrados, caso não consigam uma situação separatista. No caso de Israel, portanto, deve-se lutar para sobreviver, mesmo que os bons judeus tenham trazido prosperidade e não tenham tomado nada pela força nem prejudicado ninguém. Os israelenses são vítimas da intolerância, do fanatismo, do radicalismo e do nazismo e têm de lutar para não se deixarem abater, vendo-se quão difícil fica conseguir a paz nas circunstâncias atuais e quanto se pode confiar nos Tratados.