sábado, 21 de agosto de 2010

Condições para a Paz

Retirado de http://www.revistafator.com.br/ver_noticia.php?not=126029

Quais as condições para se encerrar definitivamente o conflito entre Israel e palestinos?
A paz, a confiança no outro, a desmobilização de forças e de espíritos não virá com a assinatura de um acordo e estabelecimento do estado palestino. Será preciso que uma ou duas gerações cresçam na paz, se relacionem na paz e não sejam educadas no ódio.

Um conflito decorre de um embate entre duas ou mais vontades, dois direitos, duas intenções, duas visões que, naquele momento, não há como se realizarem concomitantemente, sendo necessário que, como no título do filme, “alguém tenha que ceder” e abra lugar à realização da vontade do outro, do direito do outro, porém, uma das partes não cede.

A origem do conflito entre Israel e os palestinos se baseia no conceito, seja ele verdadeiro ou não, de que a justa vontade nacional judaica, portanto o direito judaico de ter seu estado no único lugar do mundo onde é possível, exclui a possibilidade de que se realize também a justa vontade de uma parte da nação árabe, os palestinos, de ter seu estado próprio, ao lado de muitos outros estados árabes.

A noção de que essas duas vontades são excludentes, ou seja, que só há lugar para a satisfação de uma delas gerou o conflito que, ao longo de quase cem anos, teve consequências e realimentaram a oposição. E, às vezes, distorcem a percepção de sua verdadeira causa: a noção de excludência, de que só há a possibilidade de uma realização nacional no que era a antiga Canaan, Judeia, Palestina.

A noção de excludência não é sionista: o sionismo aceitou a divisão da Palestina em 1922, quando 70% de seu território foi entregue a árabes palestinos. O sionismo aceitou a divisão do que restara da Palestina, sugerida em 1937 por uma comissão internacional, depois decidida na ONU na resolução da Partilha, em 1947. O estado judaico recém-criado registrou em sua Declaração de Independência sua disposição de viver em paz com seus vizinhos e teve de vencer uma guerra movida contra ele para destruí-lo no berço. Depois, viveu pacificamente dentro das fronteiras do armistício durante 19 anos, até ter sua existência novamente ameaçada pela aliança de Egito, Síria e Jordânia.

A visão excludente veio dos governos e da população árabe da Palestina, que de fato e de jure recusaram-se a aceitar a dupla realização das vontades nacionais. A guerra de independência, o terrorismo e o boicote contra Israel, a guerra de 1967 e a ocupação de territórios, são consequência do conflito resultante dessa visão de excludência. Mesmo hoje, grande parte dos palestinos (Hamas, Jihad Islâmica etc.) e do mundo árabe (Hizbolá, Irã) rejeitam programaticamente a ideia dessa partilha e advogam a destruição do estado judaico. Mesmo os ‘moderados’ da Autoridade Palestina recusaram, até agora, o reconhecimento do caráter judaico de Israel como condição para a paz e o estabelecimento do estado palestino. Em Israel, a descrença, a desconfiança, o temor de uma solução que coloque em risco a própria existência física são também um entrave a entendimento.

Existe então alguma perspectiva de paz? Ou, reformulando a pergunta, a partir da vontade de que exista: quais as condições para que se possa finalmente encerrar o conflito? Os palestinos se agarram a condições que dizem respeito às consequências: fim da ocupação, volta de refugiados, fronteiras etc. Mas, juntamente com a tática da paz, não se comprometem a reconhecer o estado judaico, recusando-se a ter como estratégia o fim definitivo do conflito, reservando ao futuro a possibilidade de volta à sua posição inicial, de excludência. Nada na atitude palestina de hoje, mesmo dos moderados, permite deduzir que abriram mão de sua visão estratégica, na qual não há lugar para um estado judaico na região. Por isso, alguns setores israelenses, com justiça, não confiam nas intenções palestinas e temem, em nome de uma paz tática (para os palestinos), enfraquecer Israel e torná-lo vulnerável. O antissemitismo, o antissionismo e o anti-israelismo internacional dão uma forte contribuição a esse sentimento e às posturas que ele suscita.

Então, diante de tudo isso, quais seriam afinal as condições que poderiam levar à paz? Num exercício de lógica: . Neutralizar todas as forças que se opõem ao conceito da convivência definitiva das duas vontades nacionais (dois estados para dois povos): Irã, Hamas, Hizbolá, Jihad Islâmica e seus aliados;

. Inserir no acordo de paz e de criação de um estado palestino o reconhecimento explícito e irremovível de que o estado de Israel é, por direito, o estado do povo judeu e que nenhuma reivindicação futura pode desfazer esse conceito;

. Com base nesse reconhecimento, estabelecer que os chamados ‘refugiados palestinos’ não serão absorvidos em Israel (o que na prática anularia o princípio de ‘dois estados para dois povos’), a não ser um número reduzido de casos familiares, aceito por Israel. Poderia haver acordo no sentido de apoio internacional (inclusive financeiro) a seu estabelecimento definitivo no estado palestino.

Até que o processo de paz reduza efetivamente tensões e neutralize as remanescentes visões ‘excludentes’ de grande parte dos palestinos, até que a paz verdadeira substitua a aspiração de hegemonia dos grupos extremistas palestinos e islâmicos, o estado palestino seria desmilitarizado, com controle internacional.

Negociar fronteiras definitivas, status de Jerusalém e todas as questões que resultam das consequências do conflito (ocupação, bloqueios, cerca de segurança, entre outros), segundo o conceito de que resolvidas as questões que envolvem as verdadeiras causas e que são inegociáveis, todas as outras são negociáveis.

A paz, a confiança no outro, a desmobilização de forças e de espíritos não virá com a assinatura de um acordo e estabelecimento do estado palestino, mesmo se satisfeitas todas as condições necessárias. Será preciso que uma ou duas gerações cresçam na paz, se relacionem na paz, e não sejam educadas no ódio e na perspectiva de ganhar o paraíso se destruir o outro, para que exista realmente paz. Um acordo de paz seria apenas uma mudança de direção, uma esperança, o possível início de um processo. Contanto que prevaleça a consciência de que a convivência não é concessão, é condição de vida num mundo de diferenças.

. Por: Paulo Geiger, editor, atua como consultor-geral e palestrante no Centro de História e Cultura Judaica do Rio de Janeiro, além de ser membro do Conselho do Departamento de Estudos Judaicos da UERJ.

COMENTO:
Artigo lúcido e realista.
É sabido que no sistema educacional Palestino os mapas não constam o Estado de Israel e que o ódio continua sendo passado para as gerações de crianças.
É sabido que mesmo Abbas dito moderado não reconhece o Estado de Israel como de carater judaico o que nos leva a pensar que sua moderação é uma estratégia para alcançar o objetivo de extinção de Israel.
A conclusão que se chega é que será preciso décadas para desarmar o ódio a partir do momento que se iniciar uma reforma do sistema educacional palestino que deve ser incluido num acordo global de paz.

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