sábado, 13 de fevereiro de 2010

REGRAS E CULTURA

http://por-outrolado.blogspot.com/13 fevereiro de 2010
Carnavais, malandros e heróis

*Gustavo Müller


A magistral obra do antropólogo Roberto DaMatta, “Carnavais, malandros e heróis”, retrata de forma singular o caráter do brasileiro e identifica no carnaval um momento no qual a ordem hierárquica é rompida.

Segundo DaMatta, o que caracteriza a formação social brasileira é a incapacidade da aceitação de uma regra universal, na qual, tanto os de cima como os de baixo estariam inevitavelmente subordinados.

Ao contrário, o que DaMatta identifica é a cultura do personalismo e do jeitinho brasileiro, ou seja, as relações de clientelismo e pequenas transgressões cotidianas que seriam contrastantes com a percepção da corrupção como elemento intrínseco ao jogo político.

Durante muitos anos os carnavais foram marcados pela irreverência e pelo sutil protesto contra os donos do poder. As “passagens desbotadas da memória” eram a forma pela qual a cultura política popular se manifestava contra o autoritarismo e a repressão.

Hoje, embora continuemos a construir “estranhas catedrais”, a irreverência contra o poder estabelecido desapareceu, pois tal poder encarna a própria cultura das “pequenas transgressões”.

Em outras palavras, enquanto que, em momentos anteriores, o carnaval era um ponto de fuga, no qual a sociedade hierárquica se fantasiava de igualdade política, estes últimos carnavais foram esvaziados do conteúdo de protesto e crítica irreverente, não porque a sociedade tenha se tornado mais igualitária, mas porque a transgressão cotidiana das regras instalou-se no poder e passou a ser o espelho do jeitinho brasileiro que vigorava nas relações interpessoais.

O fato é que a estabilidade e os programas transferência de renda, bem como o aumento do salário mínimo, incorporaram na sociedade de consumo um amplo contingente da população, mas esse processo não foi acompanhado por uma busca de vitalidade dos valores éticos e morais. Hoje a maior fantasia de carnaval é a de que os heróis continuem patrocinando a gastança desenfreada dos recursos públicos para que o consumo popular continue no ritmo ascendente.

Se “quem brincava de princesa acostumou na fantasia”, nosso consolo é que “vai passar”.

COMENTO:
O brasileiro não gosta de seguir regras.Faz parte da formação cultural da sociedade brasileira.Mas como se muda essa cultura?

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