Friday, June 18, 2010
A Morte de Saramago
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
Morreu aos 87 anos o escritor português José Saramago, prêmio Nobel de literatura. Saramago foi defensor do socialismo a vida toda, como ocorre com muitos intelectuais. Vários pensadores liberais já tentaram explicar esta atração que intelectuais sentem pela utopia socialista. Em Mente Cativa, outro prêmio Nobel de literatura, Czeslaw Milosz, descreve como foi a vida dos intelectuais na prática sob o regime que eles costumam defender de longe. O “socialismo real” é incompatível com o livre pensar, com a criação artística genuína. O intelectual se transforma numa máquina de proselitismo, num simples instrumento do partido.
Milosz cita o exemplo de Pablo Neruda para mostrar como bons poetas acabam escrevendo sobre aquilo que não conhecem. O exemplo poderia ter sido Saramago também. Em sua defesa, vale lembrar que ele rompeu com o regime cubano em 2003, após Fidel Castro mandar fuzilar três pessoas sem antecedentes, em julgamento sumário, pelo “crime” de tentar fugir da ilha-presídio. À época, o escritor disse: “Cuba não ganhou nenhuma batalha heróica com o fuzilamento desses três homens, mas sim perdeu minha confiança, destruiu minhas esperanças e decepcionou minhas ilusões”. Até então, Saramago era um entusiasta do regime e amigo do ditador. Um “pouco” tarde para descobrir a realidade por trás da retórica humanitária do sistema socialista!
Mas, como diz o ditado, antes tarde do que nunca. Esta declaração de Saramago ajuda a limpar um pouco sua imagem e seu legado. O poeta Ferreira Gullar, que fora um defensor do socialismo também, vem fazendo um admirável esforço de mea culpa, reconhecendo os erros do passado e o perigo do socialismo. Seria ótimo se cada vez mais intelectuais, escritores, poetas e pensadores de forma geral acordassem para o que é o socialismo na prática. Afinal, o que mais se vê por aí é intelectual esquizofrênico, do tipo que ama o socialismo, mas bem de longe. Foi Roberto Campos quem descreveu com perfeição este fenômeno:
“É divertidíssima a esquizofrenia de nossos artistas e intelectuais de esquerda: admiram o socialismo de Fidel Castro, mas adoram também três coisas que só o capitalismo sabe dar – bons cachês em moeda forte; ausência de censura e consumismo burguês; trata-se de filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola...”
sábado, 26 de junho de 2010
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