quinta-feira, 3 de junho de 2010

Turquia e Oriente Médio

Especialista: ação israelense é resultado de provocação turca
02 de junho de 2010 • 07h35 Comentários

Novo capítulo da crise no Oriente surgiu após ataque israelense à frota humanitária, que levava ajuda a Gaza.


Direto de Nova York

A ação israelense contra uma frota de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, que resultou em ao menos nove mortes na madrugada da última segunda-feira, foi uma resposta a provocações da Turquia, segundo o analista Alon Ben-Meir. Uma das estrelas do Center for Global Affairs da Universidade de Nova York (NYU), doutor pela Universidade de Oxford e autor de uma coluna semanal distribuída pela UPI para jornais dos quatro cantos do planeta - inclusive alguns dos principais títulos do mundo árabe - Ben-Meir tinha acabado de chegar de uma viagem à Turquia quando conversou com a reportagem do Terra sobre o novo capítulo da crise do Oriente Médio.

Autor de 'Lost Perspectives', lançado em 2008, em que segue defendendo a tese de que a solução para o conflito árabe-israelense é o estabelecimento de um Estado biparte, Ben-Meir, que tem origem judaica, nasceu em Bagdá (Iraque) e foi criado nos Estados Unidos, defende o direito de Israel de fazer valer a lei internacional. Contrário ao bloqueio econômico à Faixa de Gaza, ele enfatiza que o conflito - e as nove mortes resultantes da ação israelense - também precisa ser entendido como resultado de um ato de provocação do governo turco.

Ben-Meir, que dá palestras para convidados internacionais da Secretaria de Estado dos EUA, também fala do recente protagonismo do Brasil na região e do que percebe como movimentação ingênua do Itamaraty nos assuntos asiáticos.

Parece ser um consenso que a reação de Israel à tentativa de se furar o bloqueio foi exagerada e equivocada. O senhor concorda?

Acho fundamental não cairmos agora na tentação de analisar este episódio em cores estáticas, ou branco ou preto, sem tons de cinza. Estava na Turquia no começo de maio conversando com lideranças em Ancara, tentando justamente evitar este tipo de confrontamento. Israel e Turquia vinham conversando sobre a flotilha e Tel-Aviv havia implorado que o governo turco interferisse pois se trata de uma violação clara da lei internacional, que reconhece o bloqueio à Faixa de Gaza.

Mas o barco Mavi Marmara transportava centenas de civis, incluindo parlamentares europeus e uma cineasta brasileira. A viagem foi organizada por uma ONG, a Fundação para os Direitos Humanos, Liberdades e Ajuda Humanitária (IHH)...
Apesar disso, não tenho dúvida alguma de que o governo turco apoiou diretamente a ação dos ativistas. Vamos ser claros: se o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan não quisesse, este incidente não teria acontecido.

O senhor então caracterizaria o ataque israelense como resposta a uma provocação turca?

Mas é claro! Por outro lado, Israel não está lidando com o fato de forma correta. Tel-Aviv teve tempo de sobra para se preparar para a situação, sabia que a flotilha estava chegando há semanas. Israel podia ter usado poder não militar, com as informações que tinha, para evitar um confronto armado com os ativistas. Veja bem, eu apoio o fim do bloqueio econômico a Gaza e considero um erro Tel-Aviv recusar o esforço da comunidade internacional de encontrar um novo caminho de cooptação do Hamas. Mas esta tentativa de se furar o bloqueio foi sinistra.

Há toda a discussão em torno do ataque à flotilha ter se dado em águas internacionais...
Não importa. O destino da flotilha era conhecido e declarado. Ninguém está negando, nem os ativistas, que eles iriam quebrar a lei internacional, se dirigindo a Gaza. A medida foi preventiva, com o objetivo de levá-los para os portos israelenses a fim de examinar o que as embarcações carregavam. O problema, aqui, é outro.

A Turquia quis usar este incidente como manifesto político, não é real o discurso de que eles querem ajudar os palestinos. Se de fato o quisessem, teriam enviado ajuda humanitária via Israel. Mas Ancara se recusa a se submeter à triagem israelense. E Tel-Aviv, por sua vez, não quer correr o risco de armamentos aparecerem da noite para o dia na Faixa de Gaza.

A Turquia tem se movimentado com mais desenvoltura na região?

Sim, o primeiro-ministo Erdogan é um homem muito ambicioso. Ele quer se tornar o líder do mundo islâmico na região e, ao mesmo tempo, aumentar sua popularidade e garantir a vitória de suas teses no referendo de setembro deste ano (que propõe mudanças na Constituição) e do Partido da Justiça e Desenvolvimento nas eleições parlamentares do ano que vem. A política doméstica turca pesa tremendamente neste cenário. A ajuda a Gaza é apenas uma parte mínima no tabuleiro diplomático do Oriente Médio neste momento.

O senhor fez quatro viagens à Turquia este ano e acompanhou de perto as movimentações de Ancara e Brasília com o objetivo de conseguir um novo acordo em torno da questão nuclear com Teerã. Como o senhor vê esta parceria entre as duas nações emergentes?

Conversei com alto-oficiais do governo turco sobre o tema e não tenho dúvidas de que a Turquia pode e deve ser uma peça importante nas discussões para se diminuir a tensão em relação ao programa nuclear iraniano. Mas o acordo cerzido por Brasília e Ancara chegou muito tarde e oferecia muito pouco, quase nada.

O Irã já tem, como mostrou esta semana a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), capacidade para produzir duas bombas nucleares, mesmo que transportasse metade do urânio em seu poder. E Teerã segue se recusando a receber inspetores da AIEA em bases regulares. Nos últimos oito anos, o Irã tem feito o mesmo: conseguido ganhar tempo às custas do ocidente. Ou seja, a ação de Brasília e Ancara é admirável, mas chegou atrasada.

O quão importante para Israel é a posição da Turquia neste episódio, dado o fato de que ser Ancara o principal interlocutor de Tel-Aviv no mundo islâmico?
É fundamental, mas trata-se de uma via de mão dupla. Para Ancara também é importantíssima a parceria com Israel, especialmente em termos tecnológicos. Considero simbólico o fato de Ancara ter retirado seu embaixador de Israel mas não ter expulsado o representante israelense de Ancara.

Mas há o senso de que Israel vem se tornando uma espécie de Estado-pária, completamente isolado, dependendo cada vez mais dos EUA?

Esta é uma grande preocupação de todos os que lutam por uma solução para os problemas do Oriente Médio. A maior falha de Israel é sua falta de habilidade de explicar suas ações para a comunidade internacional. Eles não conseguem se explicar. No início do mês conversei com a maior autoridade israelense na Turquia e disse a ele: "este vai ser um problema enorme para Tel-Aviv, porque vai haver choque físico. E vocês precisam explicar à comunidade internacional o que está acontecendo".

Mas quando Israel acredita estar do lado certo, eles não estão nem aí para buscar uma narrativa para suas ações, o que é um erro terrível. Veja bem, muitos Estados, se estivessem no lugar de Israel, fariam o mesmo, abordariam preventivamente a flotilha indo em direção a Gaza. Mas eles teriam de se explicar para o mundo suas razões de forma detalhada.

Nove pessoas morreram no ataque israelense...

Sim. O que o mundo sabe hoje é que Israel é o responsável pela morte de nove cidadãos. E as próximas negociações não vão a lugar algum, porque Israel vai manter a postura de que está do lado certo e que o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, é uma organização reconhecida pelos EUA, pela Comunidade Européia e pela Rússia como terrorista.

O senhor vê com bons olhos a entrada de novos atores, como o Brasil, nas negociações do processo de paz no Oriente Médio?

O Brasil é uma potência e claramente quer participar do jogo diplomático para além dos limites da América do Sul. Entendo isso, é o caminho natural para Brasília. Mas o envolvimento direto do Brasil no Oriente Médio é algo extremamente novo. Mas não creio que o Itamaraty entendeu de forma aprofundada o que a questão nuclear representa para a região, especialmente quando tratamos do Irã. E, conversando com o primeiro-escalão do governo turco, sei que Ancara está tão amedrontada em relação a Teerã quanto Tel-Aviv. Eles estão preocupadíssimos. Estão praticando um jogo-duplo e, infelizmente, o Brasil entrou no meio da partida.

Não tenho dúvida alguma de que o Irã está determinado a produzir armas nucleares, é apenas uma questão de tempo. Autoridades russas e americanas viram vídeos que comprovam isso. Eles sabem com precisão sobre o progresso de Irã. O Brasil está agindo de forma ingênua.

Mas o senhor acredita que as sanções econômicas propostas por Washington irão resolver o problema?

Não. A única maneira é formular um acordo com Pequim e os países árabes estabelecendo uma linha de abastecimento alternativo para Pequim, com o asfixiamento da economia iraniana. Se o Irã parar de exportar petróleo, em uma semana o país entra em colapso. A economia iraniana depende 90% da exportação petróleo.

O outro cenário é mais duro: Israel acredita que em um ano ou no máximo 13 meses Teerã pode ter a capacidade de produzir armas nucleares. Os EUA divergem, e acreditam que o prazo é mais longo, algo em torno de três anos. Mas acho que Israel pode se sentir compelido a agir sozinho. Não acho que ninguém pode excluir esta possibilidade.

Voltando ao incidente de ontem, o que o governo israelense deveria fazer neste momento? Há a grande possibilidade de outras embarcações tentarem furar o bloqueio a Gaza...

Conduzir uma investigação séria, composta por israelenses e estrangeiros, para explicar o que de fato aconteceu. E afirmar de forma peremptória que não é aceitável, pelas leis internacionais, embarcações furando um bloqueio estabelecido dentro das normas. O bloqueio, goste-se ou não, é legal. E não se iluda: não acredito que necessariamente teremos mais casualidades, mas Israel não vai permitir que estas embarcações entrem em Gaza.

Mesmo quem defende o fim do bloqueio, como eu, estabelece condições. Se o bloqueio continuar, Israel precisa aceitar a ONU como parceira mais ativa. Seguir como se nada tivesse acontecido será um grande erro. Israel precisa rapidamente, mais especificamente nos próximos dias, estabelecer uma política pública de segurança voltada para a tentativa de se furar o bloqueio à Faixa de Gaza por via marítima e garantir o apoio para sua aplicação dos EUA e da Comunidade Européia.

COMENTO:
Está aí o que falei em post anterior.
A Turquia e o Brasil assim como a afastamento dos EUA de Israel está criando condições para antecipação de uma guerra já prevista por todos os atores no OM.
A Turquia também tem interesse em se aproximar do Irã pois possui fronteira com o mesmo onde deveria existir o Estado Curdo.Já realizou incursões no Iraque matando Curdos mas niguém foi acusado de massacre.O mundo pemanece calado em relação ao drama Curdo, á morte de 46 Sul Coreanos devido ao afundamento de navio pela Coreia do Norte, a morte de 81 tailandeses de oposição em manifestação contra o Governo no poder e finalmente contra a execução por enforcamento de iranianos que se manifestaram pulicamente contra a última e fraudulenta eleição no Irã.
Em relação a ONU, trata-se de uma organização envolvida em escandalos de corrupção e que não tem credibilidade de mediação umavez que é só analisar o resultado de suas ações no Líbano e em Gaza.No Líbano apesar de estar na fronteira com Israel não fiscaliza nem detém a chegada de mísseis provenientes do Irã e Síria.Em Gaza suas ambulancias e depósitos serviram de esconderijo para terroristas e armas.

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