domingo, 13 de março de 2011

Líbia e analistas políticos

Blog
Reinaldo Azevedo
Análises políticas em um dos blogs mais acessados do Brasil
13/03/2011
às 19:51
Líbia: ou potências ocidentais intervêm, arcando com as conseqüências, ou param de vender esperanças que se transformam em cadáveres

Se as chamadas potências ocidentais pretendem intervir na Líbia, ainda que por intermédio da zona de exclusão aérea, estão esperando o quê? Que Muamar Kadafi esmague a revolta e se sagre vitorioso? Se chegaram à conclusão de que a intervenção seria desastrosa, então é melhor que cesse o proselitismo. O reconhecimento simbólico do governo dos insurrectos não resolve o problema nem faz cessar a matança. Por que escrevo isso?

As informações são ainda um tanto desencontradas, mas uma coisa se pode afirmar: as forças de Muamar Kadaf chegaram a Brega, cidade que estava sob o domínio rebelde. A TV estatal anuncia o controle total da área e afirma que os revoltosos bateram em retirada; fontes da oposição armada não referendam a versão oficial, mas admitem que perderam terreno. O fato é que as forças de Kadafi avançaram 150 km para leste em 24 horas, depois de tomar Ras Lanuf. Os 150 km na Líbia significam um avanço no deserto, inclusive populacional. Não importa: o fato é que os homens do ditador estão cada vez mais próximos de Benghazi, o centro da resistência, que fica 230 km a leste de Brega.

O próximo alvo seria Ajdabiya, 160 km ao sul de Benghazi. Uma estrada liga esta cidade a Tobruk, próxima à fronteira com Egito, por onde entram medicamentos e alimentos, que abastecem a capital rebelde. A intenção imediata das forças leais a Kadafi seria interromper esse fornecimento, diminuindo o poder de resistência dos rebeldes. A União Européia expediu uma ordem internacional de prisão contra o ditador. A Liga Árabe deu seu apoio formal à zona de exclusão aérea; a Otan se diz pronta para intervir se necessário. Tudo isso alimenta a expectativa de que a queda do tirano é iminente — e, no entanto, ele avança.

A crise começa a mover os fios das confusas relações do mundo árabe com o Ocidente. Abdelhafiz Ghoga, vice-presidente do Conselho Nacional, o “governo” instalado em Benghazi, reconhecido, até agora, apenas pela França, denuncia que a Argélia fretou vôos lotados de mercenários para socorrer Kadafi; a Síria estaria fornecendo peças de reposição para as forças leais ao governo. O fato é que, por enquanto, os “profissionais” do ditador lutam contra amadores armados. A Liga Árabe deu, sim, apoio à zona de exclusão aérea, mas deixou claro que se opõe a uma intervenção em território líbio. Ainda que a decisão fosse tomada, ela seria suficiente para deter o coronel?

A situação confusa de agora nasce de um brutal erro de análise, feito com base em informações falsas. Pesquisem na Internet o noticiário de há dez dias. Anunciava-se a chegada iminente dos rebeldes a Trípoli. Já havia até uma loteria para adivinhar quem daria asilo a Kadafi. Os rebeldes líbios estavam convictos de que o mundo não os deixaria morrer no caso de uma reação do ditador. Deserções de soldados criaram a impressão de que o tirano líbio estava absolutamente isolado e poderia ser deposto por seus próprios aliados.

Nada disso era exatamente verdade, e as ditas potências ocidentais estão com as mãos mais ou menos atadas — a menos que a desatem de vez e escolham o perigoso caminho da intervenção militar. Dois ou três dias seriam suficientes para dar conta de Kadafi, para vencê-lo formalmente. O busílis é o que viria depois. A velha raposa sabe que essa não é uma decisão fácil e explora o impasse — enquanto isso, avança.

Para o Ocidente, os EUA em particular, o atual estágio é o pior possível. A parte da população leal a Kadafi — e é tolice achar que ela não existe — enxerga na guerra civil uma clara interferência estrangeira, que, evidentemente, existe, ou o tirano não seria alvo de tantos ultimatos. Para os revoltosos, ao contrário, os ocidentais, especialmente os americanos, estão sendo omissos e deixando-os morrer sem apoio. Tanto num caso como no outro, o extremismo islâmico ergue as mãos para o céu.

Chegou a hora de EUA e União Européia fazerem uma de duas coisas: ou oferecem ajuda efetiva aos rebeldes, com a intervenção, e arcam com as conseqüências — que acredito desastrosas — de sua escolha, ou param de vender esperanças que acabam se materializando em cadáveres.

Por Reinaldo Azevedo

COMENTO:
Mais um erro de analistas e cientistas políticos.No oriente médios e norte da áfrica é preciso estar "in loco" e conhecer a cultura local para análises mais acertadas.
Os meandros dos poderes nos países Árabes e Africanos são complexos, envolvem uma cultura diferente, uma realidade a qual o ocidente não entende e é baseada em regimes tribais muitas vezes antagonicos reunidos num país resultante do colonialismo europeu.
Outro aspecto interessante é a mudez em que se encontra as ONGs e a falta de organização de uma flotilha de ajuda humanitária á Líbia.Quem explica tal fato?

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