Retirado de:http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/
TEXTO 1
No primeiro ato, é o velho ditador quem dá as cartas
Enfim um texto escrito com o cérebro num jornal brasileiro sobre a crise na Líbia.
Por Igor Gielow, na Folha:
Muamar Kadafi colocou o Ocidente em uma sinuca de bico. De “cachorro louco do Oriente Médio” a parceiro de negócios confiável, o líder líbio parece ter aprendido direitinho as lições de hipocrisia de seus adversários. Sua reação imediata à resolução do Conselho de Segurança da ONU foi impecável, do ponto de vista tático. Se o será estrategicamente, esta é outra história ainda a ser contada.
Enquanto era cozinhada a decisão política na Organização das Nações Unidas, Kadafi intensificou seus ataques aos rebeldes, cortando suas linhas de suprimento. Na prática, estão encurralados em Benghazi, e parece ser difícil para eles ameaçar Trípoli sem assistência mais objetiva externa, como fornecimento de armas.
No meio-tempo, britânicos e franceses desenharam um plano para instalar uma zona de exclusão aérea -o que enseja bombardeios. O cronograma favoreceu o ditador líbio. Independentemente do que vai acontecer, especialmente se fala a verdade, o primeiro movimento do jogo foi dele.
Ao dizer “Ok, ONU, eu aceito o cessar-fogo”, Muamar Kadafi esteriliza diplomaticamente os ataques e ganha tempo. A secretária de Estado Hillary Clinton pode afirmar o que quiser, mas resolução da ONU não diz nada sobre remover o sujeito do poder. E mesmo que as bombas estejam a cair durante essa leitura ou antes, e Gaddafi venha a ser apeado, novamente ficará a impressão de que o Ocidente manipula as regras a gosto.
Isso porque a resolução da ONU fala em proteção a civis. Não faz sentido achar que a população estará salva caso a Líbia esteja partida em dois, mas nem por isso há provisões para a eventualidade de o ditador resolver fazer o serviço lentamente.
Se o Ocidente atacar, por meio da França e do Reino Unido, a resolução terá sido interpretada a seu contento e só. Não que isso seja exatamente inédito. Se decisões da ONU fossem levadas a sério, hoje haveria dois Estados na antiga Palestina sem oposição árabe e o Iraque nunca teria sido invadido pelos EUA.
Não é o caso de esquecer agendas domésticas: Paris quer se livrar da associação com o dinheiro líbio que teria financiado a campanha de Sarkozy, e Londres prefere esquecer que soltou o terrorista que ajudou a explodir um Jumbo em 1988 sobre seu território a troco de negócios petrolíferos.
Assim, o filme segue, mas a primeira cena acabou roubada pelo velho ditador.
TEXTO 2:
Paris e Moscou tentaram vender materiais militares para Trípoli
Por Igor Gielow, na Folha:
É uma grande ironia a França liderar a agressividade ocidental ao regime líbio. Até as vésperas da “primavera árabe”, o governo de Nicolas Sarkozy agia ativamente para vender material militar a Muamar Kadafi. No centro da negociação, o mesmo Dassault Rafale que a França tenta vender ao Brasil. Desde 2000, Paris tenta emplacar 15 dos caças em Trípoli, a US$ 2,5 bilhões. A Líbia foi um cliente da França após a Guerra dos Seis Dias, entre árabes e Israel. Tem até hoje cerca de 35 caças Mirage-F1. Kadafi suspendeu as compras nos anos 70, alegando que o país vendia para “todos os lados”. O principal fornecedor do país, a Rússia, não por acaso se absteve na ONU. Na carteira de Moscou há cerca de US$ 4 bilhões em armas vendidas para Kadafi.
Por Reinaldo Azevedo
COMENTO:
Está aí a hipocrisia da atual velha Europa.
Como dizem negócios são negócios,É a economia.
sábado, 19 de março de 2011
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