quarta-feira, 17 de outubro de 2012


A Guerra Santa não Deixa de Ser Guerra

por Herman Glanz – Em 30 de agosto passado, num debate no Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a guerra civil na Síria, que causara, só naquele mês de agosto, mais de 5000 mortes, o representante sírio, Bashar al-Jafari, culpava os países ocidentais pelo apoio aos rebeldes sírios, especialmente a França, que foi Potência Mandatária, por ter promovido uma mistura de etnias no seu país, o que levou à guerra atual.
O Ministro do Exterior da França, Laurent Fabius, presente, respondeu que, ao se falar contra o Mandato francês, lembrava que o avô do atual Presidente sírio, em carta que se encontra no Ministério do Exterior, da qual poderia fornecer uma cópia ao representante sírio, pedira à França para não conceder independência à Síria. Esse documento, recebido na França em de 15 de junho de 1936, já foi publicado no jornal libanês Al-Nahrar e no jornal egípcio Al-Ahram, e o professor Dr. Mordechai Kedar, da Universidade Bar-Ilan, apresentou a tradução integral do mesmo; (comentários entre parêntesis). A carta faz um elogio aos sionistas e demonstra que a paz de Israel com os árabes muçulmanos se mostra impossível. Apresentamos, a seguir, tradução da referida carta:
“Prezado Sr. Leon Blum, Primeiro-Ministro da França
Diante das negociações que estão se desenrolando entre a França e a Síria, nós – os líderes Alawitas na Síria – respeitosamente submetemos os seguintes pontos à consideração Vossa Senhoria e ao seu Partido (Partido Socialista Francês):
1 – A Nação Alawita (sic) que se tem mantida independente durante anos por meio de muito sacrifício, zelo e mesmo submetida a ataques mortíferos, é uma nação diferente da Nação Muçulmana sunita na sua fé religiosa, costumes e história. Nunca houve ocasião em que a Nação Alawita (que vive nos montes da costa ocidental da Síria) estivesse sob domínio dos muçulmanos que governam as cidades do interior do país.
2 – A Nação Alawita recusa ser anexada à Síria muçulmana, porque a religião islâmica, passando a ser considerada a religião oficial do país, fará a Nação Alawita ser tida como herege pela religião islâmica. Em vista deste fato, solicitamos venha a levar em consideração o perigoso e terrível destino que aguarda os alawitas caso se vejam forçados a uma anexação à Síria quando do fim do Mandato (da França), de forma que os muçulmanos conquistarão o poder de impor as leis que derivam da sua religião. (de acordo com o Islã, quem professar culto herege tem a oportunidade de se converter ao islamismo ou sofrer a jihad).
3 –Conceder a independência à Síria e cancelar o Mandato seria um bom exemplo para os princípios socialistas da Síria, mas o significado de completa independência representará o domínio por algumas poucas famílias muçulmanas sobre a Nação Alawita na Cilícia, Askadron (a Faixa de Alexandreta, que a França destacou da Síria e anexou à Turquia, em 1939) e sobre os Montes de Ansariyya (os Montes da parte ocidental da Síria, que constituem uma continuação topográfica dos Montes do Líbano). Até mesmo a existência de um Parlamento e um governo constitucional não asseguram a liberdade dos cidadãos. Tal controle parlamentar é somente uma fachada, desprovido de qualquer valor, e a verdade é que será controlado pelo fanatismo religioso que subjugará as minorias. Desejam os líderes da França que muçulmanos controlem os alawitas e os atirem no fosso da miséria?
4 – O espírito de fanatismo e as estreitas ideias, cujas raízes se encontram profundamente entranhadas no coração dos árabes muçulmanos para com aqueles que não são muçulmanos, é o espírito que alimenta continuamente a religião muçulmana, e portanto não existe esperança de que a situação mudará. Caso o Mandato se encerre, o perigo de morte e destruição será uma ameaça constante para com as minorias na Síria, mesmo que ao se encerrar (o Mandato), se decrete liberdade de pensamento e religião. Isto porque observamos, hoje em dia, como os muçulmanos de Damasco forçam os judeus, que lá vivem sob seu mando, a firmar documento que os proíbem de enviar alimentos para os seus irmãos judeus que estão sofrendo uma catástrofe na Palestina (eram os tempos da Grande Rebelião Árabe de 1936/37, promovendo matança dos judeus), constituindo a situação dos judeus na Palestina a mais forte e concreta prova da importância que o problema religioso representa para os muçulmanos árabes para com aqueles que não pertencem ao Islã. Esses bons judeus, que trouxeram civilização e paz para os árabes muçulmanos, e distribuíram riqueza e prosperidade para a terra da Palestina, não prejudicaram ninguém, não tendo tomado nada pela força e, no entanto, os muçulmanos declararam a Guerra Santa contra eles e não hesitaram em promover uma carnificina contra mulheres e crianças, a despeito do fato da Inglaterra se achar na Palestina e a França na Síria. Por isso, um futuro negro aguarda os judeus e outras minorias se o Mandato for encerrado e a Síria Muçulmana vier a se unir à Palestina Muçulmana. Essa união é o objetivo final dos árabes muçulmanos..
5 – Muito apreciamos sua generosidade de espírito defendendo o povo sírio e o desejo de promover a sua independência, mas a Síria, no presente momento, está longe do elevado objetivo que aspiram para com ela, porque a Síria ainda se encontra amarrada ao espírito do feudalismo religioso. Achamos que o governo francês e o Partido Socialista Francês não concordarão com a independência da Síria, caso sua implementação cause a subjugação da Nação Alawita, colocando a minoria alawita em perigo de morte e destruição. Não pode ocorrer que Vossa Senhoria concorde com a exigência síria (nacionalista) de anexar a Nação Alawita à Síria, porque os elevados princípios de Vossa Senhoria – se comungam a ideia de liberdade – façam acatar uma situação na qual uma nação (a muçulmana) tenta bloquear a liberdade de outra (a alawita), forçando a anexação.
6 – A França pode incluir a garantia dos direitos dos alawitas e outras minorias no texto do Tratado (o Tratado Franco-Sírio, que define as relações entre os Estados), mas enfatizamos a Vossa Senhoria que tratados não têm valor para a mentalidade síria-islâmica. Já vimos tal fato anteriormente, com o Pacto firmado entre a Inglaterra e o Iraque, que proibia os iraquianos de maltratarem e assassinarem os assírios e yázidis.(curdos do norte do Iraque).
A Nação Alawita que nós, abaixo assinados, representamos, suplica em alto e bom som ao governo da França e ao Partido Socialista Francês, e requer que garantam a sua liberdade e independência dentro dos seus pequenos limites (vejam: um Estado Alawita independente!). A Nação Alawita deposita seu bem-estar nas mãos dos líderes do Partido Socialista Francês e espera encontrar amplo suporte para uma nação que demonstra grande amizade e que já prestou à França grande serviço e atualmente se encontra em perigo de morte e destruição.
Assinados: Aziz Agha al-Hawash, Mahmud Agha Jadid, Mahmud Bek Jadid, Suleiman Asad (avô de Hafez, o pai de Bashir), Suleiman al-Murshid, Mahmud Suleiman al-Ahmad.”
Nada poderia ser mais claro e, por outro lado, explica a fúria assassina de Bashar Assad, porque os alawitas sabem que, se os sunitas, ou xiitas, tomarem o poder já têm o exemplo do ocorrido com Khadafi da Líbia. O Ponto 6 da mesma carta, que fora dirigida a Leon Blum, então Primeiro-Ministro francês, do Partido Socialista, traz um esclarecimento contundente sobre o valor dos tratados com os muçulmanos.
Quando a Presidenta Dilma Rousseff, na abertura da Assembleia-Geral da ONU, dia 25 de setembro passado, falou em solução diplomática para a Síria, e contra solução militar, o avô de Bashar Assad, juntamente com outros alawitas, advertiam dos perigos e falava das desgraças e terrível destino que pairavam para os divergentes de um islã predominante. Os alawitas lutam com crueldade para não “perderem as cabeças”, literalmente, cometendo atrocidades, para se manterem vivos, pois, em caso de domínio sunita, (ou xiita), serão massacrados, caso não consigam uma situação separatista. No caso de Israel, portanto, deve-se lutar para sobreviver, mesmo que os bons judeus tenham trazido prosperidade e não tenham tomado nada pela força nem prejudicado ninguém. Os israelenses são vítimas da intolerância, do fanatismo, do radicalismo e do nazismo e têm de lutar para não se deixarem abater, vendo-se quão difícil fica conseguir a paz nas circunstâncias atuais e quanto se pode confiar nos Tratados.

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