sábado, 5 de setembro de 2009

A realidade e a esquerda sobre Israel e a paz

Artigo retirado do site www.deolhonamidia.org.br

O TEXTO É GRANDE MAS MUITO ILUSTRATIVO.MOSTRA COMO A IDEOLOGIA DETURPA A REALIDADE.


Deve haver alguma coisa no ar no último mês: dois proeminentes esquerdistas reconheceram publicamente a existência de problemas fundamentais com o “processo de paz”, que tornam um acordo impossível se não forem resolvidos.

Aluf Benn, o correspondente diplomatico do Haaretz, mencionou um problema na sua coluna de 7 de agosto, ao descrever uma conversa com um “diplomata europeu de primeiro escalão”. Benn fez uma pergunta simples: De que maneira o acordo beneficiaria os israelenses comuns? O diplomata ficou perplexo. Não era óbvio? Seria criado o estado palestino! Depois do comentário de Benn no sentido de que a maioria dos israelenses se preocupa muito pouco com os palestinos, pois o que eles querem saber é como a paz poderia beneficiá-los, o diplomata tentou de novo: “O terrorismo terminará”. “Não me faça rir”, respondeu Benn.

Quando o Exército de Defesa de Israel se retirou de partes da Margem Ocidental e de Gaza, no âmbito dos Acordos de Oslo, homens-bomba suicidas se explodiram em cidades israelenses. Quando se retirou completamente de Gaza, foi bombardeado com foguetes no Neguev. Mas os homens bomba não mais se explodiram depois que o exército reocupou a Margem Ocidental e os foguetes pararam depois da operação de janeiro em Gaza. Resumindo, o exército israelense fez um trabalho muito melhor para obter a “paz” como os israelenses a entendem — isto é, não ser assassinados — do que o “processo de paz”.

A normalização com o mundo árabe também atrai muito pouco, assinalou Benn; a maioria dos israelenses “não têm uma vontade incontrolável de voar pela El Al através do espaço aéreo da Arábia Saudita nem de visitar as regiões turísticas do Marrocos”. E os aspectos negativos do acordo — financiar a evacuação de dezenas de milhares de assentados (“colonos”) e a “perspectiva assustadora de divisões internas violentas” são concretos.

A conclusão de Benn acerca da conversa foi chocante: até agora, a comunidade internacional jamais pensou sobre como um acordo poderia beneficiar os israelenses; isso foi considerado sem importância.

Mas, observou ele, para persuadir os israelenses a apoiar um acordo, o mundo teria que começar a pensar nisso. Porque os israelenses já têm o que mais querem, “paz e tranqüilidade”, e não desejam arriscá-los por outra “aventura diplomática cujas possibilidades de êxito são mínimas e cujos perigos são formidáveis”.

Uma semana depois, o professor Carlo Strenger — um esquerdista veterano que, como ele mesmo escreveu, pensa que “a ocupação tem que acabar tão rapidamente quanto possível” — assinalou a existência de um segundo problema em sua coluna semi-regular do Haaretz. Pensando nas razões pelas quais a esquerda israelense praticamente desapareceu, ele concluiu que isso aconteceu porque os esquerdistas “falharam em fornecer um retrato realista do conflito com os palestinos”.

Durante anos, ele observou, os esquerdistas proclamaram que um acordo com os palestinos iria produzir “paz agora”. Em vez disso, a Autoridade Palestina “educou suas crianças com manuais violentamente anti-israelenses e muitas vezes diretamente anti-semitas”, além de ter falhado em prevenir (ou talvez até mesmo tenha incentivado) o envio de homens bomba suicidas em 1996, bem como sabotado as negociações sobre o estatuto final de 2000 e 2001, e promovido a segunda intifada.

Mas em vez de admitir o seu erro em acreditar que retiradas de territórios trariam a paz, escreve Strenger, a esquerda culpou Israel: Os homens bomba de 1996 se explodiram “porque o processo de Oslo foi muito lento”; as conversações falharam porque as ofertas israelenses foram insuficientes; a segunda intifada começou porque Ariel Sharon visitou o Monte do Templo.

Resumindo, a esquerda adotou duas premissas falsas:

Primeiro, “qualquer declaração ou ação agressiva ou destrutiva feita por um grupo não ocidental deve ser explicada pela dominação ou pela opressão ocidental”, portanto “eles não são responsáveis por seus atos”.

Segundo, “se você é gentil com as pessoas, todos os conflitos desaparecerão”; outras motivações humanas básicas, como o desejo por “domínio, poder e... auto-respeito”,são irrelevantes.

Strenger concluiu que se a esquerda, “quiser recuperar alguma credibilidade e convencer os eleitores de que tem um papel a desempenhar, precisa dar à população um retrato razoável da realidade”.

Mas o mesmo poderia ser dito da comunidade internacional, que tem atribuído todos os fracassos do processo de paz a ações israelenses: a construção de assentamentos, “força excessiva”: contra o terror palestino, concessões insuficientes, etc.

Embora Benn e Strenger estejam ostensivamente tratando de questões diferentes, as mesmas estão intimamente relacionadas. Os esquerdistas reforçaram o hábito ocidental de culpar Israel por cada fracasso, porque eles são os únicos israelenses que os políticos e jornalistas ocidentais levam a sério. E esse hábito contribuiu em grande medida para que a maioria dos israelenses veja o processo de paz pelo prisma do puro sofrimento, sem qualquer ganho compensatório.

Primeiramente, já que o mundo tem debitado todo o ônus a Israel, os palestinos não se sentem pressionados a corrigir o seu comportamento, quer seja no sentido de parar com o terror ou no sentido de fazer concessões relativas a questões que são vitais para os israelenses, no âmbito do estatuto final. Israel tem aumentado as suas ofertas nos últimos 16 anos, mas os palestinos ainda não se moveram uma polegada. Não apenas eles não desistem do direito de retorno, mas também se recusam até mesmo a reconhecer a conexão histórica dos judeus com esta terra.

Em segundo lugar, se os israelenses se importam muito pouco com as relações com o mundo árabe, eles se preocupam bastante com suas relações com o ocidente. Portanto, um atrativo importante do processo de paz é a perspectiva de melhorar esse vínculo.
Em vez disso, a situação de Israel, especialmente na Europa, decaiu desde 1993. Os europeus agora consideram Israel como a maior ameaça à paz mundial. A violência anti-semita na Europa tem aumentado. Esquerdistas europeus e americanos rotineiramente negam a Israel o direito à existência, e pedidos de sanções e boicotes estão ganhando popularidade. Tudo isso seria impensável há 16 anos atrás.

E esta queda livre no estatuto de Israel está diretamente ligada ao fato de que sempre que alguma coisa vai mal com o processo de paz, a maioria dos ocidentais culpa Israel. Efetivamente, o fato de que Washington (pré Barack Obama) era a única exceção a esta regra é uma boa explicação para entender porque o nome de Israel permanece valorizado na América.

Devido a que esta resposta automática permaneceu imutável durante 16 anos, os israelenses estão agora convencidos de que ela continuará inalterada mesmo depois que um acordo final for assinado. A partir do momento em que os palestinos expressarem uma nova demanda após o acordo, ou se engajarem em terror anti-israelense, o ocidente insistirá que Israel aceda à demanda ou evite responder ao terror. E Israel será vituperado se não o fizer. Resumidamente, Israel deverá arcar com todas as concessões exigidas pelo acordo e ainda assim verá seu relacionamento com o ocidente deteriorar-se.

O ponto principal abordado tanto por Benn como por Strenger é que nenhum acordo de paz será possível a menos que tanto o ocidente como a esquerda israelense alterem radicalmente o seu comportamento. Mas a pergunta do milhão de dólares é se alguém que pertença a qualquer um desses setores tem condições de percebê-lo.

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